Renato Manfredini Júnior (1960 1996) trabalhou até o momento que lhe restavam forças.
Nos últimos registros em estúdio, a voz sem a mesma força teimava em dar vida a uma
coleção de músicas doídas, cruas, possivelmente menos outonais que composições
anteriores. É tal intensidade, forjada através desse espírito indômito, que a imagem do
artista se edificou. Mesmo sem a presença física, Renato Russo ainda ecoa muito alto.
Os anos à frente da Legião Urbana deram a este realizador a indissociável sombra de
"poeta de toda uma geração". A imagem do homem barbudo, camisa branca, flores na mão
e óculos de aros grossos serviram para evidenciar o furor messiânico pelo qual, infelizmente
ainda é reconhecido. O Russo metido a punk (ao seu modo, é claro), advindo de uma
recémcriada Capital Federal é muitas vezes eclipsado.
Sob as ruínas de um País imerso na abjeta Ditadura Militar surgia um moleque franzino, fã
das novidades musicais da Inglaterra e com uma disposição única para incomodar. Dividindo
entre as funções de professor de inglês e ter uma banda de rock, "Júnior", como era
carinhosamente chamado pela família, encontrou na companhia de Dado VillaLobos,
Marcelo Bonfá e Renato Rocha (19612015) a força necessária para sua aventura mais
longeva: a Legião Urbana.
Foram oito álbuns de estúdio, cinco discos ao vivo, outros lançados postumamente e
diversos contos. Gravou ainda três discos solo e protagonizou parcerias com Herbert
Vianna, Adriana Calcanhoto, Paulo Ricardo, Erasmo Carlos, Leila Pinheiro, Biquini Cavadão,
14 Bis e Plebe Rude.
Homenagens
Nessas duas décadas sem a presença do líder, a banda reduziuse a reuniões especiais
(algumas vexatórias como foi o caso de 2012, onde o ator Wagner Moura assumiu os
vocais), picuinhas judiciais entre Dado/Bonfá e o filho de Renato, Giuliano Manfredini, a
polêmica vida de mendicância e abandono do baixista Renato Rocha e relançamentos de
discos oficiais.
Para os fãs, o último deleite oficial envolvendo a obra da Legião é uma turnê nacional
intitulada "Legião Urbana XXX anos". A iniciativa reúne novos nomes da música brasileira
como o cearense Jonnata Doll a um show com canções do primeiro disco na íntegra e a
segunda parte, de sucessos da carreira do grupo.
As homenagens envolvendo mais especificamente os 20 anos de morte de Renato também
englobam o mercado editorial. A mais recente a chegar às livrarias é o livro "The 42nd St.
Band Romance de Uma Banda Imaginária", que reúne cadernos e folhas soltas escritas em
inglês pelo então garoto de 15 anos, Renato Manfredini. Uma curiosidade em torno da
publicação é o fato do sobrenome adotado. O nome "Russo" adveio do líder da banda
imaginária, o personagem Eric Russel, que chegou a dividir palco com o exguitarrista dos
Rolling Stones, Mick Taylor. Outra iniciativa é o lançamento de uma edição revista e
ampliada da biografia "Renato Russo O Filho da Revolução", de Carlos Marcelo.
Outro trabalho (com previsão para julho de 2017) envolve exposição inédita dedicada ao
cantor no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS). O acervo reúne relíquias guardadas no apartamento de Renato Russo, além de fotografias, documentos e mais de 50
diários manuscritos que nunca foram exibidos ao público.
Idealizado pela Legião Urbana Produções Artísticas, empresa que trata da curadoria de toda
a obra do artista, o álbum "Viva Renato Russo 20 Anos" está disponível site de streaming
Spotify e traz composições do artista na voz de 12 bandas de várias regiões do Brasil. A lista
inclui "Por Enquanto" (Plutão Já Foi Planeta), "Geração CocaCola" ( Selvagens À Procura
De Lei), entre outros.
Para os fãs cearenses, a data alusiva aos 20 anos de morte de Renato será celebrada, às
19h, no Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar (CDMAC). O show "Renato, 20 Anos &
Legiões", da banda Coda. A abertura da noite fica por conta do grupo Verminosos Rock
Band, que executa, na íntegra, o álbum "Cabeça Dinossauro", dos Titãs, outro clássico dos
anos 1980.
A chama em torno de Renato Russo, sua obra e a forma como encarava o mundo se faz
presente e firme. Guia um séquito de admiradores que mesmo abastecidos com revisitações
de nível bem abaixo da produção da Legião Urbana, como foi o caso do sofrível filme
"Somos tão Jovens", de 2013.
Querer acrescentar qualquer ideia de meiguice ou idealização de "bom moço" ao universo
de Renato Russo é um erro recorrente e desnecessário. Renato amou, odiou, caiu, criou
coisas belas e ao mesmo tempo estúpidas também. Sorriu e engoliu lágrimas com a mesma
velocidade com que criava versos. Selvagem e contestador, era guiado por uma paixão
guardada à sete chaves no peito. Homenagens sempre serão bem vindas. Os fãs querem e
as terão. Essa devoção em torno de Manfredini Júnior faz dele um animal indecifrável. Um
artista bem à frente da maioria de farsantes que foram responsáveis pela geração "Rock 80"
brasileira.
Livro
The 42nd St. Band
Renato Russo
Companhia das letras
2016, 216 páginas
R$ 34,90
Mais informações:
Show "Renato, 20 Anos & Legiões", com as bandas Coda e Verminosos Rock Band, às 19h,
no Anfiteatro do CDMAC ( Rua Dragão do Mar, 81 Praia de Iracema). Ingressos: R$ 30,00
(inteira). Contato (85) 34888600
Portal do Helvecio
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